O tamanduá da estrada
por Luciano Candisani em 26 de julho de 2013
Hoje, no quinto post da série sobre o livro Pantanal, na linha d’água, vou falar do tamanduá-mirim da página 123.
Essa é, sem dúvida, uma das fotografias que desperta curiosidade entre os leitores. Parece que o pequeno animal andava tranquilo pela estrada quando foi fotografado. “Tem até as pegadas atrás dele”, comentam alguns. A associação com o ser humano vem imediata em uma profusão de comentários.
A cena real, porém, tem mais relação com um comportamento de defesa típico dessa espécie. Ao sentir a aproximação de um intruso, o tamanduá assume a posição bípede e abre as pernas da frente expondo as garras poderosas em uma tentativa de intimidar a aproximação do perigo – vem daí a expressão “abraço de tamanduá”, usada com frequência para designar abraços pouco amistosos entre nós.
No caso dessa fotografia, o intruso fui eu. O animal, de fato, vinha andando pela estrada em sua posição normal, com as quatro patas no chão quando o vi do jipe aberto. Eram cinco da manhã no Pantanal do Rio Negro e o sol ainda estava abaixo do horizonte. Ao perceber o jipe, ele parou. Desci e me posicionei à sua frente. Então, ele se esticou todo e abriu os braços em posição de defesa. Durante os poucos minutos que tive diante da cena, busquei freneticamente compor o animal com as linhas diagonais da estrada. Buscava aquela sensação da caminhada, do movimento.
A diagonal funcionou bem como eu imaginava, sobretudo devido à posição das pernas e as “pegadas” atrás do animal – vindas, na verdade, de um trator que passara por ali.
Isso me remete a um trecho do Ensaio Sobre Fotografia, de Susan Sontag: “Toda foto tem múltiplos significados; de fato, ver algo na forma de uma foto é enfrentar um objeto potencial de fascínio. A sabedoria suprema da imagem fotográfica é dizer: ‘Aí está a superfície. Agora, imagine – ou, antes, sinta, intua – o que deve estar além, o que deve ser a realidade, se ela tem esse aspecto’.”
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